As ideias também fazem sexo.

As ideias também fazem sexo.

terça-feira, 28 de junho de 2016

Assassinato imaginário

Você viu quando ela se sentou ao lado do violão e começou a comê -lo? Viu todas as notas crocantes que engoliu esta manhã? Será que ali seu plano já estava decidido?
Não. Você não viu nada,  ela te fez cego.  A verdade é que vim apenas comentar essa decisão dela de acabar conosco. Para onde iremos?  Há proteção? Lembrar -se -a de nós mais tarde? Continuaremos vivos e vagando? Como se dá a morte nossa, de seres imaginários? Chegou o fim. A morte real dos amigos imaginários.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Proibido olhar o céu

No centro da cidade, no ponto de ônibus e o céu está lindo. Atrevo -me a observá -lo.  Descaradamente esqueço a vida. Sou eu, o céu, a espera (dela não se esquece) e, oh! Não! Uma louca!
Está olhando o céu e as pessoas afastam -se. Imagine ser visto ao lado desta delinquente, louca, vulgar.
Ela olha o céu como se pudesse. "É proibido olhar o céu! "Gritam em suas mentes. Afastam -se. É louca. Pode ser contagioso.
Meu ônibus chega. Sou desperta do transe do céu divino. Olho em volta. Cinzas e estranhos olhares.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Lógico florescente e possível

Sentou -se. Saboreou uma vagarosa tragada de ar. Cheiro de rosas.  Um rio florescente flutuava à sua frente. "Não é possível". Tentou aproximar -se. Não se mexia. Como não? Não dá! Não dá. Músculos petrificados. Aquele rio era sua alma.
Estava num sonho? Era lógico e possível. Num lapso lembrou -se do jantar. Ocorreu -lhe a ideia de que poderia ter tido a comida envenenada. Era lógico e possível.
Tentavam contra sua vida? Paz? Era um susto? Uma pegadinha? Era azul florescente e florescia. Um pique - nique rodava lentamente em seu cérebro.
Nunca sentia -se na mesma sintonia dos demais humanos participantes. Como prendera -se naquele mundo particular? Como sair dele?
O rio secou -se. Podia mexer -se.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Balão de hélio

"Eu tenho uma porção de sentimentos que não têm nome. Entenda. Sinto demais. Eu sinto todas as palavras. Eu sinto pesoas. Sinto coisas sem palavras.

Sinto a tudo a todo minuto. "Sou de fases", te disse há tempos. Você escreveu " FASES, FASES, FASES, FASES, FASES, FASES, FASES, FASES, FASES, FASES... Não contei quantas vezes, e colocou num lugar onde todos pudessem ver. Às vezes, acho que me esqueço por um segundo e começo a voar.

Sou um balão de hélio,  você tem que segurar minha mão para não me perder no espaço sideral.

Entenda e não pergunte se é um voto de silêncio. Tenho milhares de demônios em mim. Tenho monstros horripilantes mas só um dá sentido a minha vida."

Achei isso tudo. Estava escrito. Senti sua falta. Sinto. Ela desapareceu. Não sei onde. Não vou procurar. Ela me pediu paz, "se um dia eu sumir, e vou, não me procure." Achei graça. Mas no fim, soltei sua mão e a perdi. No espaço sideral.

Não foi um voto de silêncio.

domingo, 19 de junho de 2016

Líquido e pegajoso

" É um belo dia". Ele dizia, e as palavras de sua voz pareciam -lhe estranhas e amigas. Como se o som tivesse personalidade própria e um velho amigo velho estivesse a sussurrar " É um belo dia."
Tinha razão.  O céu cinza e carregado,  quase tão cinza quanto seus olhos e cabelos. Nada mais carregados que sua alma. O vento frio soprava forte, invencível.  Ele amava todas aquelas manhãs. Faziam -lo querer a vida assim, como elas. Tiravam -no da cama antes do tempo, apenas para respirar.
Aquele céu maravilhoso deixava suas flores mais coloridas. "... belo dia..." e num instante,  lembrou -se que era quase tão velho quanto sua voz.
Sim, amigo!  Venha, vou levar -te para ver as crianças que brincam coloridas em meio ao cinza do entulho. "São quase como flores. Olhe, amigo, aquela flor vermelha brinca em meio a vida poluída já que ainda não cresceu. A mãe diz que está suja de lama, mas nós sabemos, a lama a faz pura."
Dias como aquele faziam noites agradáveis. Era uma pena estar de volta à casa. Tirou os sapatos. Abriu a porta. Entrou. Sentiu algo líquido e pegajuso entre os dedos do pé.  Uma pena não poder adiar a faxina ppr mais uma noite. Todos os dias estavam sendo agradáveis, mas todo aquele sangue começava a feder.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Encarniçar

Apenas os loucos e os ignorantes  não têm medo de mim. O paradoxo instala -se quando descubro -me temeroso, mas louco. Eu sou o portador da loucura que os insanos não veem. Ou veem? Uma menina de manicômio disse -me que os cães sentem o cheiro do medo "fede muito?" Perguntou. Não sei, estou gripado, respondi. Sou então um cão. Um desses miseráveis. Apenas os loucos fazem sentido. Sinto cheiro da hipocrisia e covardia. Isso fede, me da mais nojo de você. Sabia que é possível?
Porém, o medo, o medo tem cheiro de divertimento, quero mais, video -game, pega -pega, esconde -esconde. Isso assusta e encarniça -me. Não gosto da sensação de ser temido. Então, rodeio -me de loucos suportáveis,  gatos e amigos imaginários.