As ideias também fazem sexo.

As ideias também fazem sexo.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Peçonhenta conquista

És tu serpente. Sou eu rato. Preocupa-te comigo. Caça meu rastro  com língua. Mantêm  seu desejo pernicioso a meu encalço. Pergunta-se se o veneno já percorre-me as veias ou se já estou caído, imóvel,  inda quente. Interesso-te. Interessa-te.

sábado, 8 de setembro de 2018

Sopa e vinho

Vi meus olhos antes de cair no poço. Não eram diferentes. Ninguém disse por qual motivo deveriam ser. "Há um muro de Berlim, dentro de mim", justificariam-me em algum momento de 1989. "Alivio Imediato".
O poço muda de lugar a cada semana e talvez a trajetória nossa não seja contínua. Não que me falte água potável ou a entediante queda de Alice. Provavelmente entre ele e o poço não existe diferença, ou que ele seja o poço que o encara e não vê diferença nos olhos do encarado para os olhos do espelho.
Existem vermes na pia da minha cozinha. Eu fiz, convoquei, alimentei, esqueci e agora, não sei o que fazer com eles. "Vi uma série em que deus chegou ao mesmo ponto e encontrou a solução de ir para o bar", disse a menina que não usa sapatos vermelhos.


sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Fôlego

Existe um tempo. Esse tempo está preso, como na fotografia, com a diferença que ele está vivo, flui, em suas dimensões normais, não em 2d, mas, também não em um folego todo. Esse tempo é. Como o respirar, sem e com o ato. Quase como uma intenção, sendo, contudo, toda a ação perfeita (infinita), que já nasceu em mim, antes que soubéssemos abrir os olhos.
O tempo está preso em si. Sem cárcere. Fora do alcance de todos. fazendo-nos fantasiar sermos seus reféns. Não somos sua areia.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

A viagem de trem

Sinceramente, odeio quando postam comentários anônimos. Não sei o que está, você, querendo dizer com indiretas e eles não aparecem para meu publico.
Estava em distração, olhando para um guarda-chuva num trem.
Talvez fosse estonteante a névoa de charutos, ou a grande insistência alheia em obrigar-me em ser vanguardista, uma pessoa moderna, como todos os nascidos, adivinhemos só, no mesmo dia, do mesmo ano que eu. Contudo, só eles fazem parte do clube e, só eles podem vestir roupas combinando não entendo de moda.
Reparava-se, do outro lado do vidro, que chovia, no mundo e aqui dentro, havia fumaça. Ambos os lados fediam a poeira, cada um a sua maneira. Havia uma menina no cenário. Ela não usava sapatos vermelhos. Havia esse marrom engordurado, com gosto de vazio por la.
Não havia fitas no teto. Era tudo, cheiro de fumaça, visão de molhado, em movimento, molhando, não havia sotaque alemão. Apenas marrom amarelado, poeira, enjoo, movimento contínuo e burburinhado e um cheiro dolorido. Todos enlatados por dentro e o mundo enlatado do lado de fora.


terça-feira, 21 de novembro de 2017

Recinto no sofá

Você sabe que a liz azul está com gosto apodrecido? (Ela e a vodka brigaram quanto ao redator enquanto odiávamos nosso emprego).

Disse bom dia envolta no aroma esmaltado de algo que me escapa. Sento-me ao sofá. " O Fabuloso Destino de Amélie Poulain tem cores fantásticas." Saliva esmaltada. Algo escapa.

Cheiro de gato em névoa pela sala (quase mastigável) ainda esmalto de amarelo azulado as únhas do pé. Ela marina no aroma. Silêncio.

Poeira podre

Olhos que são meus lembram-me; apontavam para morangos que apodreciam na estante de madeira escura, em cima de um livro amarelado e poeira amarelada e papéis de parede  gastos, de amarelo. Não tocava tango

A cor do lustre lixou o aço de teus dentes, que são, roubados. Minhas margaridas contaram ao céu da boca dela qur quase odiariam café azul (mad preferem estrelas como vinho)

Comi morangos. Quase podres. Apenas lambi os mofados (Para que não os visse nessa situação). Não há sujeito.

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Raridade dolorosa

"Seja cru"
Estou cansado de suas indecisões. Aquelas que dizem respeito a nós. Entendo as que dizem respeito a ti. Também eu as enfrento. Também eu, não sei quem sou. Também eu, vivo em conflito constante. Também eu, sou vários. Comumente só sei que te quero e que contigo posso contar. Sabia. Seria prazer seu brincar com meus (raríssimos) portos-seguros? Afinal, com todas minhas idas, vindas, somas, subtrações, divisões, multiplicações, conversões, desaparecimentos, desintegrações e voltas, junções e colagem de cacos, faço, fiz, tudo para não confundir a ti, para mostrar que era irrefutável.
Então, recuperei-me. Sobrevivi a você depois de ter-me deixado frente á uma nova catástrofe. Sobrevivente de mim, de ti e dos outros. Hoje tu vens e diz "ainda te tenho encrustado em mim" e quase, por um instante, caio novamente em teu abismo. Não te lembras? sou gás hélio. Cansei de poupar-te de minha flutuação. Talvez use essa defesa, monstruosa, contra este monstro. Não se se sinto tanto. Alguns traumas são irreparáveis.