As ideias também fazem sexo.

As ideias também fazem sexo.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Quatro chamadas perdidas

Odiou cada póro de seu corpo. Cada átomo gritava o esgotamento da rotina incansável de palavras mesmas de sentidos que inexistem, cada dúvida e rebelião. Odiou as quatro chamadas perdidas. Todos os dias se doava por aquilo. Era essa a razão de sua crescente ansiendade.

Sim. Já perdera mais chamadas daquele amor. Sim. Sempre insuportáveis. Da mesma forma? Não importa. Tentava distrair -se agora, concentrando -se em sua dor de cabeça ou fome.

Odiava cada partícula de luz refletida do astro rei por aquele satélite minúsculo. odiava com todo o vazio do peito e nó da garganta. Odiou a realidade e a ficção do livro que lia, do social que usava. Odiou sua maquiagem, medo e sapatos. Odiou as quatro chamadas perdidas.

Mudar de ideia

Ele não a comeria nesta noite. Contudo, não mais importava -se com isso. Ele tinha trabalho a terminar, era concentrado. Sim, era irritante,  mas agora, não era importante. Enquanto ele resolvia -se em sua escrivaninha, ela masturbava -se na cama. Isso era importante.

Estava tão molhada. Amava tanto aquele homem, a poucos centímetros de distância,  tão longe. Agora, gemia alto, perto, mas não o suficiente de um orgasmo.

Levantou -se com alguma violência da cadeira. Talvez zangado, os gemidos deviam atrapalhar.  Broxante. Voltou a concentração aos próprios seios. Os mamilos tão duros.

Entrou violentamente no quarto, apoiou -se sobre os braços, ao pé da cama. Visão privilegiada. Não sabia se estava zangado, mas quase inexpressivo,  mantinha apenas um olhar feroz. Raiva ou tesão? Não importou -se. Ao menos agora, tinha atenção.  Imaginou que fosse tesão, enquanto ele, apenas a observava, imóvel.

Levantou -se por cima das pernas, pôs -se de joelhos,  ainda a masturbar -se, com a mão livre, segurou seu queixo, beijou -o com força e ardor encostou -o por inteiro em si, enterrou os dedos em seus cabelos. Ele reagiu, finalmente, como que acordado de um transe profundo. Agarrou -a com força com um braço, e com a mão livre, percorreu seu corpo. Deitou -a na cama. Ele também a amava. Amaram -se.

domingo, 27 de março de 2016

Velhos e manias armadas

Estava um girassol apontando para sua estrela perto da morte. O velho da cadeira de balanço via tudo em vermelho agora. Pedira água à funcionária. Entretanto, neste mesmo instante, outro empregado descobria morte de outro internado. O velho da janela. Desde sua chegada ao asilo, apaixonara-se por ela. Namorava -a horas a fio com a caduquice e magia esperadas de um velho amante supersticioso. Morrera amando -a. A janela dava para um beco imundo. E o velho da cadeira com sede.

sábado, 26 de março de 2016

Sol e garrafas de vidro

Era a doce Brida, da irmã mais nova, a que morrera no parto. Talvez, tivera pressentido o mundo à sua volta e resolvera não dar o ar da graça. Ela veio, sentira à volta, o mundo e, sorrira, doce.

E no vazio da solidão, era lágrimas. Começou a guarda -las. Chorava em garrafas de vidro. De dia, colecionavam seus sorrisos.

Acabaram -se as garrafas. Esvaziou -as todas numa banheira.
Afogou -se.

sexta-feira, 25 de março de 2016

Colméias sem ferrões

Mortos são como aviões. Pensamentos que não são bons o suficiente. É uma liberdade o isso. Horas infindáveis no cemitério. Colméias sem ferrões. Não diga qual é meu problema. Não suporto mais saber meu problema. Faça-me perder altitude. Apenas mais uma moeda. O fim é o começo. Comecei pelo fim. Jamais existiram todos esses sorrisos. Morremos mais uma vez. Morte azul. O conhecimento nos manteve. Eu e deus somos parentes.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Virar ar


Criou coragem por uma semana e admitiu -me, achava -se doente. Não,  não que estivesse mesmo, nada fizera para comprovar, mas imaginava- se,  pensava que talvez estivesse.

Sentia -se tremendamente cansada, a todo segundo, vinha o sono, a preguiça a matava. Não aguentava mais o próprio corpo. Quetia rasgar -se e virar vento.

Tinha alguma experiência com suas psiquiatras,  terapeutas e psicologas. Pesquisara muito seus sintomas. Entendia um pouco. Não queria admitir -se deprimida, mas era real. Tinha medo de inutilizar -se. Lutava com todos os cacos que sobravam, mas a doença apenas a consumia mais.

Apenas abria -se comigo. Seu amigo virtual. Era o tipo de pessoa que mostrava -se rocha, muralha onde os outros apoiavam-se. Comigo, era uma amiga. Nos sustentava -mos, um equilibrava -se no e ao outro. Entretanto,  entendo que nem tudo contava, não queria chatear com a tristeza constante.

Eu também,  triste crônico. Sempre senti demais. A vida não é gentil com quem sente demais.

O que a derrubava era não ter forças para o estudo. Sentia que todos seus sonhos estavam presos e ela não conseguia quebrar a prisão. Pensava constantemente em explodir a masmorra. Se fizesse isso, ela morreria, mas os sonhos, libertariam -se.